sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Erkin Koray, e a psicodelia progressiva turca do anatolian rock

O rock surgido nos guetos, oriundo do resultado de miscigenação racial e cultural. Uma fusão musical presente em todos os movimentos de contestação social. Ritmo execrado pelo sistema, que mesmo assim não conseguiu domá-lo, e numa era de repressão social, parecia ganhar mais força a cada instante. Cruzando fronteiras e derrubando barreiras pelos quatro cantos do mundo, ele chegou até a Turquia, através da mente daqueles instáveis seres fartos da estabilidade condicionada, como foi o caso de Erkin Koray e seu anatolian Rock.

Erkin Koray
Álbum Illa Ki - 1983
O poder do rock não se limita somente às vibrações sonoras emitidas pela conjunção dos fatores que interligam poesia, músico, instrumentos e amplificadores elétricos. Sua essência transcende os limites sonoros, mergulhando dentro do âmago social, nas profundezas da civilização humana. Alimentado pelo espírito da contestação social trazido pela onda da contracultura em meados do século passado - numa época de comunicações esparsas desprovida de internet - suas sementes germinaram de forma alastrante pelo globo, rompendo com as sólidas barreiras geopolíticas impostas pelos regentes do sistema. As estruturas tradicionais rachavam.

E assim foi na Turquia, numa época crítica dominada pela ortodoxia cultural e religiosa, começavam a surgir seres estranhos, de cabelos compridos armados com guitarras e amplificadores elétricos, que resolveram incorporar à musica tradicional turca a conjunção racial e sonora contida no rock, dando origem a uma sonoridade ímpar, um ritmo lisérgico denominado de anatolian rock, ou o anadolu rock em turco, como queiram.

tiago sinhor


Erkin Koray foi um destes "demônios alados" emergido em meio ao inquieto movimento musical e social que invadia as fronteiras turcas nos idos da década de 60. E mais uma vez lá estava ele, o rock, amaldiçoado pelo sistema, sempre carregou em sua genética os uivos de protesto e insatisfação daqueles instáveis e aptos ao inconformismo diante a estabilidade do atual estado das coisa.

A música de Erkin Koray carrega a bagagem ideológica de constestação sem deixar de lado a sonoridade incrível, repleta de percussões no melhor estilo turco, acompanhada pelos solos de sitar, baglama e guitarra, expondo suas as influências do rock progressivo e psicodélico, como Frank Zappa, Beatles e Led Zeppelin.

Erkin Koray

Elektronik Türküler - 1974

 
Absorver sua música é como deixar se levar pela hipnose lisérgica da década de 60 e mergulhar numa jornada surreal dentro da mente atravessando os desertos da reflexão, sentado sob um tapete voador ao ritmo da transcendentalidade sonora do rock anatolian. 















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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Dialética da morte, por mim, inspirado em Saramago

A morte. Situação tão hostil diante da mundana normalidade a qual nos submetemos ou somos por ela submetidos. O fim. Palavra carregada de infinito mistério. Aliás, a morte de uma forma ou outra caracteriza-se como o fim.

Para alguns o fim de um ciclo material baseado na concepção de que após o tudo, é o "nada" que existe. Para outros o fim de uma vida imposta a vós por determinadas forças até então desconhecidas, porém acreditadas. Também para uns o fim de um tortuoso sofrimento, ao qual, através de um penoso e estafante ato, lhes custa aceitar o quão bondosas são essas forças que insistem em atuar de maneira determinante sobre os fenômenos do aqui - passado, presente, futuro - no entanto, podem, em determinadas circunstâncias, tornarem-se mais ou menos suscetíveis a absorção de teorias do castigo divino.

Existem ainda aqueles que manifestam uma tremenda vontade no empenho ante à busca do autoconhecimento, atravessando as fronteiras que separam o nada e o tudo, percebendo que a distância entre elas é extremamente tênue, induzindo-os à realidade de dimensões paralelas que coexistem infinitamente formando um intrincado e complexo método existencial, reconhecendo que as possibilidades existem sim, e estão ao alcance agora.

Tantas são às expectativas pelo fim que a humanidade se viu obrigada a interceder na dialética mental da coletividade e interpor-se perante tais percepções existenciais, temendo que as referentes questões, mantivessem os humanos distante do ímpeto progressista humanóico.

Jose Saramago
Intermitências da morte





Alguns ainda escrevem, como é o caso de José Saramago, em seu livro as Intermitências da Morte, no qual constrói um instigante processo reflexivo com a ideia da necessidade absurda de sermos mortais, de maneira irônica e surreal.















Enfim, as respostas a quem do infinito nunca serão completamente respondidas, o conhecimento e a ignorância são grandezas proporcionais. Quanto as questões referente a situação humana aqui e agora sobre a Terra, estão elas circulando sutilmente a nossa volta aguardando serem absorvidas pelas percepções. E compreende-las pode sim ser uma tarefa árdua, no entanto intrínseca, e todos podem tirar suas próprias conclusões, ou também, não impede que disso tudo alguém não extraia absolutamente nada, pois o nada é tudo e o tudo é nada, basta aguçar a percepção.

  

Por Leonardo Barden
    

A alma é uma mulher

Entre as luzes
Luzes artificiais azuis
Onde algumas produzem luz
E outras não
Em um tempo moderno
Onde a escuridão do espaço
Influencia mentes com corpos
Nessa era desconexa
Está a alma
Bem no centro de tudo
Como sempre esteve
Crucificada
Esquecida
Abandonada
Pelos homens
Que são incapazes
De reconhece-la em si mesmos
A alma é uma mulher
Todas as almas são mulheres
Um calma mulher
Uma sábia mulher
Uma mulher que talvez não tenha sexo
Mas que é toda colorida
Reflete o dourado do sol
E o verde da árvore mais frutífera luminosa
As almas estão presas nos corpos
Prostradas em forma de cruz
Elas repousam pacientemente
Embora, em posição desconfortável
Elas aguardam você acordar
E retira-las da cruz
Em um dia iluminado
Você e sua alma
Tornarão-se unos
Nesse dia então
Você relembrará
Do significado da vida

Por Tiago Sinhor

tiago sinhor
A alma é uma mulher


 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Hermann Hesse: a busca pelo autonhecimento diante das restrições sociais

retrato
Herman Hesse

Desprender-se das expectativas do progresso deteriorante, que se encontram aprisionadas junto às ilusões mundanas do sucesso material, foi desde sempre alvo de inspiração presente no processo dialético mental daqueles destemidos inconformados pensadores que, por determinada razão, negligenciaram e ou negligenciam a atual situação dos acontecimentos e interações que procuram sustentar o condicionamento existencial da civilização humana como sociedade.

Introduzir novos conceitos e visões, incitando contradições junto ao senso comum conturba com os até então inquestionáveis teores de normalidade impostos pela máquina social, que de uma maneira um tanto quanto insensata, passa a olhar para àqueles, os instigadores de reflexão, como uma ameaça ao atual estado das coisas.

Hesse e o Gato
Hermann Hesse e o gato

Foi assim, em meio a atmosfera opressiva e condicionante do inicio do século passado, que Hermann Hesse solidificou seu pensamento e aguçou sua sensibilidade, ao expor publicamente seus ideais e percepções existenciais, escrevendo suas reflexões formuladas e inspiradas por experiências traumáticas suas decorrente do ambiente familiar e social que o absorvia. Procurando relacionar a necessidade de conciliação entre as relações humanas e a busca pelas potencialidades latentes que vagam despercebidas nas profundezas da mente de todos os seres providos de telencéfalo "altamente desenolvido" e polegares opositore; Hesse usou de toda sua capacidade inventiva para difundir àquilo, que talvez, lhe perturbava o sono.

Apesar das cicatrizes psíquicas ocasionadas pelas ultrapassagens diante a estes obstáculos que se ergueram em seu tortuoso caminho elucidativo - um ambiente familiar ancorado sob uma ferrenha ortodoxia religiosa cristã e ter sido submetido às atrocidades de uma educação calcada na violência física e emocional - Hermann Hesse, mesmo assim, construiu uma extensa e profunda obra, baseada na necessidade da busca do autoconhecimento dentro das restrições impostas pela sociedade, materializando pensamentos através de romances e estudos que mesclam filosofia oriental, ficção e uma autobiografia disfarçada de seus acontecimentos e experiências cotidianas.


Num mundo cada vez mais despersonalizado, onde os valores humanos e mentais são devorados pela necessidade de satisfação do ego, preocupado mais em aparentar do que realmente entender, as pessoas já não mais são reconhecidas pelo que pensam ou são, mas sim por aquilo que fingem exteriormente. Diante a esta superficialidade emocional, condicionada gradativamente pelos atuais sistemas de relacionamento virtual, o desafiante método proposto por Hermann Hesse, a conexão entre mente e a consciência cósmica, talvez esteja distante da popularidade mundana, porém para àqueles, poucos, ou serão loucos (?), cansados da estafante rotina progressista moderna, parece estar a cada segundo, a cada instante, a cada momento uma pouco mais vivo. 
 
Um pequeno apanhado de sua obra:

Hermann Hesse
Demian (1919)




Demian foi concebido após um colapso nervoso que acometeu o escritor. O trabalho incansável e chocante na Suíça ajudando prisioneiros de guerra, somado ao casamento fracassado, a morte do pai e uma grave doença em seu filho, conturbaram sua mente. Fez então psicanálise com um J.B. Lang, discípulo de Karl Jung, usando estas experiências para produzir o romance, aonde descreve a enorme confusão mental de um jovem que abruptamente toma consciência da fragilidade moral, da família e do Estado.











Hermann Hesse
Sidarta (1922)

 

Inspirado na vida de Sidarta Gautama (o Buda), e por sua estada na Índia em 1910, o livro trata da busca filosófica de um jovem indiano por si mesmo, fundindo filosofia ocidental e oriental na exploração do autoconhecimento. Na década de 60 o livro foi um dos responsáveis pela disseminação do hinduísmo e budismo nos Estados Unidos, servindo de referência aos poetas da geração beat, como Jack Kerouac e William Burroughs.












Hermann Hesse
O Lobo da Estepe (1928)






Como característica de sua obra o livro é carregado de conteúdo autobiográfico disfarçado, onde o autor descreve a trajetória  de um sujeito misantropo (aquele que desconfia da humanidade) e que tem aversão aos relacionamentos interpessoais corriqueiros e do senso comum que orientam a maioria das pessoas na sociedade.











Hermann Hesse
O jogo das contas de vidro (1943)





Seu último livro, o auge de sua obra criativa, "O jogo das contas de vidro", escrito entre 1931 e 1942, descreve um futuro utópico habitado por uma comunidade mística que desenvolveu uma espécie de linguagem oculta, altamente evoluída onde encontram-se reunidas várias ciências e artes onde os ideais do espírito são ativamente preservados.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O empolgante balanço do Soul Train



Num mundo onde a pressão acumulada da sobrevivência sistêmica abafa nossos sentidos, procurar libertar-se das angústias fabricadas é um dos ingredientes que contribuem para a motivação existencial.

Imagine-se então viver sob uma opressão escancarada da segregação racial, como os negros no início do século passado, e que mesmo assim, conseguiram, através da arte, produzir um elixir para amenizar as dores físicas e mentais deixadas pela imbecilidade da gananciosa colonização europeia.
 
Em meio às vastas plantações de algodão nos Estados Unidos, eram submetidos ao trabalho escravo de maneira desumana, todavia com seus corpos consumidos pela fatiga, extraíam energia das profundezas do âmago para entoar versos de lamentação que se transformavam numa jocosa áurea sonora, e que mais tarde acabou por se tornar um dos ingredientes principais do movimento musical mais expressivo da história da humanidade, o rock and roll.

Blues, rythm and blues, soul, gospel, jazz, todos oriundos do processo escravo que a cultura africana trouxe ao mundo.

cottom blues
Plantação de algodão

Mas este cenário de opressão racial perdurou por muitos anos e ainda sente-se alguns sinais, porém os negros nunca deixaram de lado suas raízes, pelo contrário, como já dizia um James Brown, "Os negros querem curtir e dançar".

Suas tradições culturais sempre foram impactantes e influentes, foi assim com o programa musical de televisão na década de 70, nos Estados Unidos, criado e apresentado por Don Cornelius, o Soul Train.

Soul Train
Don Cornelius - Soul Train

Soul Train foi um palco onde a atração principal era o coletivo de pessoas anônimas e descoladas que, desligadas do processo mundano, balançavam sensacionalmente seus corpos ao embalo de implacáveis trilhas sonoras. Um verdadeiro espetáculo criativo e envolvente de improvisação e sentimento aonde os dançarinos apenas deixavam-se invadir pela vibração sonora da música. Sensacional.









sábado, 26 de outubro de 2013

A essência e o sabor de uma culinária sem dor: Bobó picante vegetariano

O preparo de uma refeição, além da terapia mental e motora, proporciona ainda, uma percepção mais profunda sobre a necessidade de ingestão de substâncias, que dentro de nosso sistema digestivo, são sintetizadas para gerar a energia que nos mantém. Indo mais adiante do instinto inevitável e irracional da fome, surge a possibilidade das combinações de sabores e aromas que despertam nossas sensações de prazer.
Num sistema consumista que se apoderou dos hábitos alimentares de seus integrantes, e o usa como ferramenta para nutrir a ganância exacerbada das grandes corporações,  fica cada vez mais penoso a busca por uma alimentação saudável que seja capaz de ser transformada em energia limpa dentro de nosso organismo.
Mas sempre existem àqueles "replicantes e insanos" que de uma maneira ou outra sentem-se desconfortáveis com tamanha opressão, e passam a contribuir para que momentos de transformações mentais comecem a eclodir, despertando percepções e alterando de maneira sutil o cotidiano sufocante moldado pela paranoia consumista do capitalismo deteriorante.

A receita que aqui se apresenta é baseada num tradicional prato da culinária brasileira nordestina feito a base de frutos do mar e ou camarão, onde os ingredientes de origem animal foram sutilmente substituídos por vegetais, acentuando o sabor e eximindo-se da cumplicidade da indústria mortífera da dor. Experimentem então, em um momento de ócio criativo, conceberem esta conjunção de sabores e texturas livre de dores e energia putrefata animal: Bobó picante vegetariano.

De preferência opte por ingredientes orgânicos, ou de sua própria horta, mas se for complicado consegui-los não se desespere e use aqueles que estiverem em seu alcance. A missão de alimentar-se naturalmente livre da contaminação química e ou animal é uma tarefa um tanto quanto árdua, e exige paciência à adaptação, no entanto cozinhar sem carne, nem que seja de vez em quando, livre do sofrimento animal, já é um belo passo.

Ingredientes

culinária livre de dor
cores
1 pimentão verde picado grosseiramente
1 pimentão vermelho picado grosseiramente
1 pimentão amarelo picado grosseiramente
100 g de champignon
50 g de pimenta biquinho
1 cebola picada

3 tomates picados
3 dentes de alho picados
1 kg de aipim (mandioca ou macaxeira) cozido
500 ml de leite de cocô (duas caixinhas de 250 ml)
3 colheres de sopa de azeite de dendê
3 pimentinhas malagueta desidratada bem picadas (opcional) ou qualquer outra pimenta ardida que achar conveniente
1 ramo de temperinho verde bem picado (salsinha e cebolinha)
1 colher sopa de açafrão (opcional)
1 colher sopa páprica doce
sal a gosto

Preparação:

Com a panela já quente acrescente uma colher de azeite de dendê, espere alguns segundos e lance o alho e as pimentas malagueta, depois de dourá-lo junte a cebola e logo em seguida os pimentões. Instantes depois acrescente o champignon e na sequência os tomates. Deixe cozinhando por alguns minutos.

o sabor da cozinha sem dor
mistura de cores

 Depois disso leve ao encontro dos vegetais refogados junte a mandioca e o leite de cocô, mecha bem até a mistura ficar homogênea e mandioca se dissolver. Deixe cozinhando por um período de 20 a 30 minutos, ou até perceber que os sabores já se incorporaram. 

os sabores e aromas de uma culinária sem dor
a homogeneização dos ingredientes

 Alguns instantes antes do término do cozimento, junte as pimentas biquinho, a páprica doce, o açafrão e o sal, mecha bem.

o sabor de uma cozinha sem dor
bobó picante de vegetais

Salpique com o cheiro verde picado e sirva com arroz branco ou se preferir arroz integral.

o sabor dos vegetais
o sabor da culinária sem dor



Por Leonardo Barden





sexta-feira, 25 de outubro de 2013

T - Distorções, ilusões e um breve contato com o nada (Deus?)

Quando nasce um artista?
Desde o princípio?
Após um momento de crise?
Uma soma de experiências?
Diz-se que a paz de um artista é conquistada pela expressão dispersada.
O artista tenta colocar-se em tal momento como ele realmente é.
Longe de ser um ícone, atua como um representante da sua própria arte.
Dificuldades imensas ele enfrenta na entrelaçada era da informação em meio a um bombardeio de informações.
O fato é que é uma luta, uma busca pela fusão, pelo novo onde encontre a sua verdade, a sua compreensão do mundo.
Entre todas as teorias, o artista não se agrega a nenhuma delas. O mundo deixa de ter um sentido objetivo. Pensamentos, formas e cores perdem o sentido cultural e filosófico. O mesmo caminha criando um novo mundo repleto de influências do antigo.
Mas as influências podem tornar-se obstáculos para a sua busca ou em outra ocasião são a inspiração inicial, o princípio do ato.
O artista visualiza um pensamento acima do julgamento social...


Tiago Sinhor
T

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O escárnio literário de Charles Bukowski


velho safado
Bukowski
Absorvida pela rotina econômica a humanidade depara-se com a felicidade momentânea dos fabricados momentos de lazer, e o que sobra, para àqueles, os desprezados seres que perambulam às margens deste cenário ilusório, os infames "fracassados" que não assimilaram tal condicionamento deteriorante, e que por determinados motivos e ou circunstâncias estranhas à normalidade, insistem em manter-se afastados do polido e insosso ensopado metódico no qual encontra-se mergulhado a famigerada sociedade humana?  
Ancorado a este submundo paralelo Charles Bukowski cunhou seu pensamento. Em meio a divagações alcoólicas de uma vida hedonista incrustada na impessoal e implacável cidade de Los Angeles, o "velho safado" Buk, encontrou a essência de sua criatividade para expressar seu pensamento. 
Apesar de ideologicamente identificado com a geração beat de Jack Kerouack e William Burroughs, sempre resistiu ao rótulo, e, mesmo mantendo relação próxima com alguns dos membros, preferiu a solidão de seus pensamentos repousado nos subúrbios da metrópole, onde peregrinava entre bares e corridas de cavalos.
O estilo literário nada polido que brotava das entranhas de sua mente, trouxe à tona, para dentro do clamor social, os ideais de vida de um ser que menosprezou o sonhado estilo de vida do cidadão norte americano, àquele do profissional bem sucedido, homem de família, apto aos desfrutes de uma vida artificialmente consumista e estabilizada.
Este desapego escancarado da normalidade e a maneira ébria que encontrou para encarar os acontecimentos de uma vida marginal, lhe renderam a fama de degenerado, louco e safado.
A harmonia entre palavras que mesclam cinismo e ironia dão vida a expressões desvairadas que despertam
 o inconformismo diante da perplexidade de um ser estranho e desiludido.
Bukowski é sem dúvida alguma, o contraponto em carne e mente do estereotipado sonho capitalista.

Alguns de seus poemas:

_____________
CONFISSÃO







esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama
sinto muita pena de
minha mulher
ela vai ver este
corpo
rijo e
branco
vai sacudi-lo talvez
sacudi-lo de novo:
"Hank!"
e Hank não vai responder
não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.
no entanto
eu quero que ela
saiba
que dormir todas as noites
a seu lado
e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas
e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora ser ditas:
eu te
amo.

_______________________________________
                                    poema nos meus 43 anos 



terminar sozinho

no túmulo de um quarto

sem cigarros

nem bebida-

careca como uma lâmpada,

barrigudo,

grisalho,

e feliz por ter um quarto.

...de manhã

eles estão lá fora

ganhando dinheiro:

juízes, carpinteiros,

encanadores , médicos,

jornaleiros, guardas,

barbeiros, lavadores de carro,

dentistas, floristas,

garçonetes, cozinheiros,

motoristas de táxi...

e você se vira

para o lado pra pegar o sol

nas costas e não

direto nos olhos.

______________________________

olá como você está?

esse medo de ser o que eles são:
mortos.
pelo menos eles não estão na rua, eles
têm o cuidado de ficar dentro de casa, aqueles
malucos que se sentam sozinhos na frente de suas tvs,
suas vidas cheias de enlatados, riso mutilado.
seu bairro ideal
de carros estacionados
de pequenos gramados
de pequenas casas
as pequenas portas que abrem e fecham
quando seus parentes os visitam
durante as férias
as portas se fechando
atrás do moribundo que morre tão devagar
atrás do morto que ainda está vivo
em seu tranquilo bairro de classe média
de ruas sinuosas
de agonia
de confusão
de horror
de medo
de ignorância.
um cão parado atrás de uma cerca.
um homem silencioso na janela.

______________________

99 para um



o tubarão resplandecente
quer meus bagos
enquanto atravesso a seção de carnes
em busca de salame e queijo

donas de casa púrpuras
apalpando abacates de 75 centavos
sabem que meu carrinho é um
pau monstruoso

sou um homem com um relógio antigo
parado em uma cabine telefônica numa espelunca
chupando um bico vermelho como morango
de cabeça para baixo em meio à multidão na Filadélfia.

de repente tudo ao meu redor são gritos de
ESTUPRO ESTUPRO ESTUPRO ESTUPRO ESTUPRO
e eu estou metendo em alguma coisa debaixo de mim
cabelos ruivos opaco, mau hálito, dentes azuis

costumava gostar de Monet
costumava gostar muito de Monet
era divertido, eu pensava, o que ele fazia
com as cores

mulheres são caras demais
coleiras para cachorro são caras
vou começar a vender ar em sacos alaranjados
com os dizeres: florescências da lua

costumava gostar de garrafas cheias de sangue
jovens garotas em casacos de pêlo de camelo
Príncipe Valente
o toque mágico de Popeye

o esforço está no esforço
como um saca rolhas
um homem de verdade não deixa farelos de cortiça no vinho

este pensamento já ocorreu a milhões de homens
ao se barbearem
a remoção da vida talvez fosse preferível à
remoção dos pêlos

cuspa algodão e limpe seu espelho
retrovisor, corra como se tivesse vontade, ex-atleta,
as putas vencerão, os tolos vencerão,
mas dispare como um cavalo ao sinal da largada.



segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A contorcionista e o estranho inseto


Série: Distorções, ilusões e um breve contato com o nada ( Deus?)



Experiente e respeitada contorcionista, ela era, além disso versada em yoga, meditação e uma assídua estudiosa do conhecimento transcendental. Admirada pelas suas ações, pela sua arte e por suas escolhas (era apolítica).


Sua vida tinha sido marcada por experiências emocionais fortes e traumáticas, entre isso o contato com alucinógenos fortes que fizeram com que seus canais perceptivos estivessem altamente sensíveis e em contato com uma subjetividade ampla que ainda não conseguia compreender ao certo as mensagens que lhe eram enviadas.


Sempre soube diferenciar seu lado transcendental de seu lado mulher, vivera interessantes relacionamentos, ora duradouros, ora momentâneos, mas sempre com dignidade e verdade.


Todas as manhãs eram destinadas as suas práticas (contorcionismo, yoga, meditação). Levemente seu corpo se moldava aos exercícios, sua mente silenciava ao seu comando, que estava totalmente imerso em sua respiração. Sua inteorização era tão intensa e profunda que passava horas em prática e tudo aquilo era extremamente reenergizante para todo o seu ser.


Quanto a sua busca pelo conhecimento transcendental, tinha influências budistas, hinduistas, cristãs e filosofias transcendentais. Pocurava sempre ampliar o conhecimento passando horas usando sua intuição e imaginação para vislumbrar idéias jamais concebidas.


Grande parte de suas escolhas estavam totalmente relacionadas a idéia de renascimento, mas não sabia ao certo as possibilidades que seu karma a proporcionariam.


Certa manhã enquanto já estava em plena atenção sentiu que um inseto pousara em seu pé, calmamente direcionou seu olhar a ele e subitamente sentiu-se transportada a uma nova frequencia mental.


Uma nova energia entrara em contato telepático trazendo resposta que sempre buscara...
Muitas possibilidades estavam dispostas a sua próxima vida , porém as responsabilidade seriam maiores, muito maiores...


Um sol , um planeta ou a perfeição com o contato com a plena energia que estrapolava todas as fronteiras da existência...


A conversa termina com uma frase:
Você tem o resto da vida pra escolher, não tenha pressa...
 O único caminho desta vida para glória é o caminho transcendental!



Por Tiago Sinhor

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Dualidade, qual é a sua essência? qual o seu objetivo?



Tiago Sinhor
Trabalho 02


Na obra transitam dualidades que estão presentes somente em suas mentes.

No primeiro momento observe o homem e a mulher, símbolos que em um momento representam a união, a poderosa energia sexual e em um segundo momento, uma dualidade histórica.

O homem está acima por todo o contexto histórico. Ele é o provedor, quem vai para guerra, talvez esteja em amarelo representando o sol. Mas, repare no detalhe, ele não tem uma perna e está em declínio. Carrega pedras , ora para o trabalho, ora para luta. Mas ele não sabe quem são os inimigos, talvez o maior dragão esteja dentro de si mesmo.

Abaixo com sua sensibilidade e sensualidade está a mulher calmamente observando o declínio do homo. Não se sabe se ela se sensibiliza com o ato ou se saboreia. O fato é que ela está com um grande espaço na obra e tem a possibilidade de levantar a hora que quiser.

Repare que o homem foi colocado acima da metade da obra ( no céu), talvez por sua histórica transcendentalidade, mas que se encontra em perigo pelo isolamento.

Já a mulher está abaixo, na terra, mas tem todas as possibilidades de erguer-se e caminhar lado a lado com o homem ou travar uma guerra sexual eterna.

Agora volte seus olhos para o canto esquerdo e observe que Nietzshe e Shiva formam um curioso equilíbrio. Nietzshe dentro de uma tv vermelha representa toda intensidade de sua vida e obra. Nietzshe atinge um poder transcendental por meio do seu intelecto. ele chega ao ateísmo, não crê em nada após a morte. Mas o nada teria o poder de ser completamente nada? 

Então derrepente em cima da tv, distorcendo todos os átomos a sua volta Shiva se manifesta. Ele vem propondo que Nietzshe está correto em suas indagações, e que é a partir da consciência do nada que o todo se manifesta.


Transcendental sim, pedra não.
O Deus que está em mim saúda o Deus que está em você.
 

Por Tiago Sinhor

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Arte: a faculdade de construir pontes

Leonardo Barden
Em determinados devaneios racionais propagados por pensamentos que divagam dentro de minha mente, encontrar-se-á em definido momento a expressão: "construtores de pontes". Tal ferramenta literal foi absorvida a partir das reflexões mentais de Aldous Huxley,  registradas em sua obra "A Situação Humana", um compêndio de quinze conferências proferidas na Universidade da Califórnia no ano de 1959, onde o visionário autor evoca temas que processam questões ligadas à filosofia, história, religião, linguagem, ciência, artes, psicologia, guerra, nacionalismo, traçando com perspicácia uma relação destas com a formação do pensamento coletivo e o estilo de vida da civilização humana. Ao longo deste raciocínio ele valoriza o papel do artista e o define na função de um construtor de pontes dessa relação homem/mundo. 
E a respeito do enfoque insuportavelmente vasto e significante da arte, onde o homem provido de um sistema nervoso que lhe fornece uma abundante e confusa gama de experiências, necessita de alguma maneira encontrar um sistema de ordem e significado, a fim de manter viva a chama da sensatez, através da inevitável e complexa comunhão de símbolos.
Nesse contexto segundo Huxley a função do artista é construir pontes entre fatos objetivamente observados e experiência imediata, entre moral e avaliações científicas, tornando, através das emoções, interessante aquilo que antes era desconhecido ou desinteressante, explicando o mundo não em termos de beleza, mas sim em termos de forma significante.
Desviá-las do caminho da sensatez é uma obsessão das forças opressoras e condicionantes que mantém a normalidade do atual estado das coisas, porém, enquanto elas permanecerem erguidas em meio aos confins da infinidade, sempre existirá àqueles prontos a atravessá-las e outros tantos dispostos a ergue-las.

Por Leonardo Barden

O livro de Huxley:

Aldous Huxley
A situação humana - 1963




quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A despretensiosa e mordaz percepção de L. S. Lowry

L. S. Lowry
Auto retrato L. S. Lowry



Laurence Stephen Lowry ou L.S. Lowry, foi um “construtor de pontes”, um estranho pintor modernista, mas acima de tudo, ele era um ser humano qualquer perambulando sutilmente com seu apurado instinto perceptivo por entre os caminhos da existência cotidiana aos arredores da cidade de Manchester, do início do século 19, mais precisamente em Salford, no auge do nebuloso processo industrial britânico. Tamanha devoção a uma vida comum, em meio àquela paranóica aglutinação humana, talvez tenha lhe custado o superficial reconhecimento por parte dos "detentores elitistas" do universo artístico. Mas e quem disse que ele se importava com tal prestígio? Lowry nunca interessou-se em construir uma estima em meio à sociedade artística, pelo contrário, abriu mão dela, para continuar vagando pelas ruas abarrotadas de pessoas que existiam sob densos nevoeiros de fumaça exaladas pelas opressivas chaminés detentoras do capital; e exercer vespertinamente sua tarefa sistêmica de cobrador, permanecendo mergulhado dentro das entranhas do sistema, para durante à noite saciar sua sede de expressão criando um rico e complexo registro de uma época conturbada e sôfrega.
            Durante sua longa carreira de "construtor de pontes" L.S. Lowry produziu uma grande quantidade de pinturas, que iam desde paisagens até retratos de mulheres enigmáticas; porém, foram por seus registros da caótica coletividade urbana, que ficou para sempre lembrado.
            Sua dedicação à profissão de cobrador, rendeu-lhe, além da aposentadoria aos sessenta e cinco anos, à inspiração necessária para catalogar imagens do nefasto período instaurado nas grandes metrópoles inglesas pelo tenso progresso capitalista emergente nas primeiras décadas do século dezenove, onde a classe trabalhadora sucumbia perante a negra nuvem de fumaça e fuligem - oriundas das colossais chaminés corporativas, que inundava o céu da perturbadora metrópole.
            A captação desta sinistra atmosfera é a essência de sua sensibilidade artística, onde o autor faz um registro historio e arquitetônico da época e ao mesmo tempo, de maneira sutil, penetra no âmago do burocrático e estafante estilo de vida adotado por uma civilização até hoje industrialmente humanóica, sem nunca perder o mordaz espírito de ordem e significado transmitido através da arte. 
            As imagens de pessoas e animais que compunham a civilização em seus quadros sobre cenários urbanos, acabaram sendo batizadas de “palitos de fósforo”, pela semelhança física e ao mesmo tempo fria,  que Lowry usava para expressar a melancolia coletiva que se arrastava por entre as fábricas e cortiços da metrópole.
            Mesmo seu nome figurando paralelamente no universo das artes, e algumas de suas obras ainda serem mantidas afastadas do grande público, sua sensibilidade artística ficou evidenciada na história, e continuará contribuindo como ferramenta de reflexão, àqueles perceptivos, transmitindo a essência energética instigante que só a arte consegue emanar. 

Algumas de suas obras:

L. S. Lowry
Ancoats hospital outpatient's hall - 1952

L. S. Lowry
Coming from the mill 1930

L. S. Lowry
Coming out of school 1927

L. S. Lowry
Dwelling, ordsall Lane, salford - 1927

L. S. Lowry
Going To Work

L. S. Lowry
Industrial landscape

L. S. Lowry
Market scene, northern town - 1939

L. S. Lowry
Picadilly Circus
L. S. Lowry
Street scene, 1935
L. S. Lowry
the canal

L. S. Lowry
the cripples, 1949

L. S. Lowry
the fever van, 1935

L. S. Lowry
the pond, 1950

L. S. Lowry
V E day celebrations



L. S. Lowry
River scene industrial landscape - 1935
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