terça-feira, 23 de julho de 2013

Crônicas anacrônicas atarantadas sistematicamente - A oculta culinária vegana

dieta vegana
Certas escolhas, em determinados momentos, nos tornam concorrentes da normalidade. Eu que o diga, quando indagado a respeito de minha opção alimentar.
Crescido, desenvolvido, criado e recriado em meio à rotina imposta pela tradição carnívora, possuía até então, uma concepção alimentar estritamente enraizada sob a ótica da origem animal. Porém já faz algum tempo que venho abolindo esta fonte do cotidiano nutritivo. Este instigante divórcio jogou-me abruptamente diante de uma nova percepção sobre a gastronomia e suas técnicas, ainda mais quando mergulha-se para dentro dos abismos ocultos da culinária vegana. 
Penetrar neste intrincado e paralelo mundo de ingredientes e combinações que mais se assemelham a experiências de alquimia do que a receitas culinárias, significa romper com  paradigmas até então aceitos e absorvidos por nossa cultura sob a pressão das "forças condicionantes que determinam a normalidade de hábitos e rotinas sociais". Essa violação com o axioma alimentar, implica uma mudança de estilo de vida, não exatamente uma nova maneira de ver o mundo, mas sim de senti-lo, talvez, numa intensidade mais profunda, distante da tão cultuada comida rápida que nos é ofertada incessantemente pelas ferramentas de comunicação sistêmica.
A culinária vegana, exige um contato mais íntimo e paciente na forma de manipular e administrar a infinita gama de ingredientes naturais de origem vegetal que se concentram no ecossistema, os quais são usados, misturados, fundidos e transformados para a concepção dos sabores, texturas e aromas, sem falar na abolição do sofrimento animal e no complexo e benéfico número de nutrientes que elevam a qualidade da vida humana.
Mas infelizmente o atual ritmo imposto pela sociedade cosmopolita e contemporânea "moderna", constrói barreiras que tendem a dificultar tal aproximação, por diversos motivos, sejam eles tempo, comodidade, praticidade, tecnologia, enfim, impondo motivações extrínsecas que, por uma miríade de circunstâncias, acabam muitas vezes diluindo as expectativas em pequenas ampolas de sobrevivência.  
De maneira alguma existe aqui, a pretensão de instigar uma apologia em prol à dieta vegana, mas apenas expressar um ponto de vista de um reles praticante de peripécias e experiências culinárias, que sutilmente, foi atingido pelos benefícios ocultos da alquimia vegetal.




Por Leonardo Barden


   


  

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O efêmero intervencionismo urbano de Christo e Jeanne-Claude

casal de artistas
Christo e Jeanne-Claude
Tudo começou em 1958 com um pequeno contêiner embrulhado com lona e adornado com cola, areia e tinta. A partir daí Christo Yavashev, começou a transformar em arte seus empacotamentos, trabalhando em escala colossal. Juntamente com sua mulher Jeanne-Claude Denat, contribuíram para o desenvolvimento do conceito de earth art (tipo de arte em que o terreno natural é trabalhado de modo a integrar-se à obra).
Suas obras são resultado de um complexo processo de concepção que envolve uma enorme gama de recursos humanos e materiais. Mas ao contrário do que se pensa, estas imensas estruturas construídas transitoriamente em meio a natureza, que consomem uma grande quantidade de matéria prima, mão de obra e dedicação, formam um conjunto coletivo de ingredientes que revelam um incrível senso de trabalho em equipe e de sustentabilidade ecológica. Depois de expostas as estruturas são desmontadas e nenhum vestígio permanece no local que possa denunciar indícios de que o gigantesco aparato ali esteve montado. Todo material descartado é reaproveitado e ou reciclado.  
A ideia de usar o tecido para revestir temporariamente paisagens tanto urbanas quanto naturais, traduzem um ciclo que muitas vezes pode ser encarado como o da vida material, onde um corpo frágil e ao mesmo tempo complexo existe transitoriamente em meio um intrincado conjunto coletivo de processos e interações.
Outra característica peculiar nos trabalhos e projetos do casal é que os recursos financeiros são subsidiados pelos próprios artistas, através da arrecadação de fundos com a venda (a preço de obra de arte) do processo que Christo intitula de a Fase de Hardware (desenhos, fotografias, mapas, maquetes, croquis), que são preparatórios para a fase de execução, e não aceitam nenhum tipo de patrocínio. E o dinheiro que recebem destas vendas é destinado todo a fase de preparação, finalização, manutenção e remoção, não há lucro, nem dinheiro de volta, "é como criar um filho", explica Jeanne, que já deixou esta passagem transitória corporal em 2009.



Christo Yavashev
A cadeira envolta (wrapped chair) - 1961





 
Um de seus primeiros trabalhos, exposto no Museu de Arte de Cleveland, EUA.












Christo Yavashev
Pacote (Package) - 1965




Os pacotes lacrados refletem a primeira impressão do artista, sobre as embalagens ocidentais - o mesmo havia fugido da Alemanha Oriental em 1958 - envolvendo completamente o conteúdo com um tecido dobrado de forma complexa e então os amarra com cordas. Eis que o conteúdo permanecerá para sempre cerrado dentro do embrulho, e sua desocultação acarretaria na destruição da obra.  Esta idéia é interpretada por Christo quando, em 1962, envia um ‘pacote’ para o artista americano Ray Johnson, que o abriu para encontrar uma fotografia do pacote e uma nota informando que ele tinha arruinado a obra de arte.










Christo e Jeanne-Claude
Wrapped Coast (Costa embrulhada) 1969




 Em 1969, o primeiro projeto em escala colossal em paisagens naturais, envolver em tecido e corda o sinuoso litoral rochoso de Little Bay, na costa australiana.  O trabalho levou apenas um mês para ser executado e contou com a participação de mais de 100 pessoas, entre engenheiros, alpinistas e trabalhadores em geral.





Christo e Jeanne-Claude
Wrapped Coast - 1969

Christo e Jeanne-Claude
Valley Curtain (Vale Cortina) - 1972

Entre 1970 e 1972 foi a vez do casal içar velas rumo aos estados Unidos, mais precisamente em Rifle no Colorado, onde uma cortina gigantesca foi colocado em meio ao vale serpenteado por belas montanhas rochosas. Esse projeto exigiu muito esforço e paciência por parte da dupla, que teve sua primeira tentavia frustrada devido a forte influência dos ventos, uma vez que o apoio artificial da cortina de poliamida laranja variava entre alturas de 55 a 110 metros.


Christo e Jeanne-Claude
A imensa cortina laranja que cortava o vale Rifle


Christo e Jeanne-Claude
Vista aérea do Vale Cortina - 1972



Valley Curtain demonstra a efêmera essência das obras intervensionistas de Christo e Jeanne-Claude, pois devido a força dos ventos a cortina teve quer ser removido apenas 28 horas após sua coolocação, demonstrando a dedicação e determinação dos artistas para ver a ideia materializada através da conclusão do projeto.





Outro grande desafio à perspicácia do perseverante casal foi a obra Running Fence uma cerca de tecido de 38 km de extensão através do estado da Califórnia, erguendo-se do Oceano Pacífico ao sul de Bodega Bay, levando 4 anos desde a concepção até sua montagem.

Christo e Jeanne-Claude
Running Fence - 1976


Christo e Jeanne-Claude
Running Fence (vista aérea) - 1976

Em 1983 as ilhas cercadas (Surrounded Islands) foi mais um colossal trabalho envolvendo arquitetura, engenharia e arte, e requereu também, assim como em todos os seus trabalhos, um amplo projeto de impacto ambiental com biólogos e ornitólogos, sendo que junto com o desenvolvimento do projeto foram coletadas mais de 30 toneladas de lixo em volta das 11 ilhas da Baía de Biscayne em Miami.

Christo e Jeanne-Claude
Surrounded Islands - 1983


Christo e Jeanne-Claude
Surrounded Islands - 1983



 Talvez o projeto mais escultural do casal o envolapamento da Ponte Neuf em Paris contou com mais de 300 colaboradores, depois de autorização concedida tanto pelo prefeito da cidade quanto do presidente francês.

Christo e Jeanne-Claude
Pont-Neuf Wrapped - 1985

Christo e Jeanne-Claude
Pont-Neuf Wrapped

Em 1995 foi a vez do parlamento alemão receber o embrulho de Christo e Jeanne-Claude.

Christo e Jeanne-Claude
Wrapped Reichstag - 1995


Após  partida de sua companheira Christo concebeu mais um incrível obra pensada por eles: o Big Air Package (Grande Pacote de Ar), em gigantesco pacote erguido dentro do Gasômetro de Oberhausen, na Alemanha. A instalação consiste numa gigantesca estrutura de tecido - o maior tecido inflável sem estruturação já feito -  de 90 metros de altura, 50 metros de diâmetro e 177,000 m³ de volume.

Christo e Jeanne-Claude
Esboço Big Air Package

 
Christo e Jeanne-Claude
Interior do Big Air Package


Christo e Jeanne-Claude
Big Air Package - 2010



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