quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Crônicas anacrônicas atarantadas sistematicamente - Felicidade egoísta?


Leonardo Barden
O processo industrial, o consumismo, a frenética luta por emprego, o descomedido crescimento populacional, a poluição, a falta de sorte, a neurose, são apenas alguns ingredientes que temperam este repugnante ensopado metódico de doutrinas e padrões pré estabelecidos, no qual encontra-se mergulhado a lastimável civilização humana.
Trabalho, labuta, profissão, mão de obra, estafamento, fadiga, sufocação, e assim admiramos a célere existência passar diante de nós. Enjaulados numa identidade profissional em busca do almejado capital sucumbimos perante os atos de imbecilidade da gananciosa exploração extrativista. 
Alguém poderá discorrer destas palavras, e apresentar diversos álibis à felicidade momentânea, como um relacionamento amoroso bem construído, filhos, amizades, boa comida e moradia, conforto, segurança, etc e tal, onde os meios para se alcançar as necessidades básicas são completamente engolidos pelos instintos de uma existência social condicionada.
Existirá alguma maneira de lutar contra este condicionamento enraizado no âmago do pensamento humano, sem ser um eterno infeliz, ou um feliz egoísta?
Talvez a felicidade de certa forma seja sim um sentimento egoísta, e ou também, ao mesmo tempo, um ato de solidão, pois só existe apenas um único lugar no universo o qual podemos ter certeza conseguir melhorar: o nosso próprio eu.

 

Por Leonardo Barden

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A experimentalidade impactante e subversiva de Gustav Klimt

Gustav Klimt
Gustav Klimt
As forças exercidas pela hipocrisia do conservadorismo sempre estiveram presente no âmago da sociedade, e com maior veemência ainda são sentidas no universo artístico e cultural, que o diga Gustav Klimt a mais de cem anos atrás.
As ideias inovadoras constantemente alvoroçam os ditames conservadores, e esta ameaça ao estado normal dos costumes reprimidos, foi a responsável pelos escândalos e polêmicas as quais eram submetidas as obras de Gustav Klimt.
Seu estilo experimental que fundia elementos contemporâneos a estilos clássicos desprezados na época, como arte japonesa, chinesa e egípcia, aliado a ênfase que dava à importância da sexualidade como fator determinante na vida, foram taxados como escandalosos e esdrúxulos para época, sendo até indiciado sob acusação de pornografia e perversão excessiva. Em certas ocasiões, suas obras eram exibidas através de uma cortina, a fim de evitar corromper a mente da juventude.
A experiência adquirida com o experimentalismo contribuiu para aquela que seria considerada sua fase dourada, onde o pintor absorve e incorpora em seu pensamento, influências dos afrescos bizantinos e dos mosaicos que ele vira nas igrejas de Ravena na Itália. Klimt se afasta do realismo e passa a deter-se no oculto e no espiritual.
Depois da morte de sua mãe a chamada era dourada da lugar aos melancólicos tons de cinza, que passam a preencher suas pinturas.


Um pequeno passeio por sua obra:


Gustav Klimt
Amor - 1895





   Em suas primeiras pinturas ele já mostrava o tom experimental de suas pinceladas.













Gustav Klimt
Judith - 1901













Pintura sobre o relato bíblico em que Judith cortou a cabeça de Holofernes. Ênfase nos tons dourados, uma característica de Klimt.





















Gustav Klimt
O friso de Beethoven - 1902
O friso de Beethoven foi uma obra pintada no prédio da Secessão de Viena, movimento dissidente liderado por Klimt durante o período de 1897 a 1905.


Gustav Klimt
Esperança I - 1903















Ao pintar uma mulher nua e grávida Klimt sabia que ia contra os padrões da conservadora sociedade vienense. O interesse de Klimt pelas formas corporais femininas ia além da beleza estética e do teor erótico. Sabe-se que dois de seus filhos são oriundos do relacionamento com uma das modelos que pousavam para seus retratos. O interesse de Klimt por essas mulheres, residia estritamente no aspecto físico, nas formas corporais, razões que levam ao ostracismo de praticamente todas estas garotas, com exceção de Herma, a qual desapareceu subitamente, deixando o artista muito preocupado. Ao procurá-la, descobriu que estava grávida, não estando em condições de continuar seu trabalho de modelo. Mas Klimt, mesmo assim, esforçou-se em fazê-la regressar, nascendo o primeiro quadro Esperança.











Gustav Klimt
O retrato de Adele Bloch-Bauer - 1907












Nesta obra Klimt usa todo seu talento para criar um complexo adorno de óleo e ouro sobre tela. A obra fora encomendada pelo rico industrial Ferdinand Bloch-Bauer, que apoiava as artes e promovia o trabalho de Klimt.














Gustav Klimt
Esperança II - 1907


Quatro anos depois de Esperança I, Klimt retorna ao tema da gravidez, agora sob uma nova ótica. A mulher grávida aparece vestida debaixo de um traje decorativo que lembra seu mural conhecido como Friso Stoclet. As figuras da doença e da morte agora são menos ameaçadoras e as cabeças baixas dos personagens remetem a uma atmosfera de resignação.













Em sua última grande pintura mural Gustav Klimt experimenta uma mudança no estilo, surgindo as formas geométricas repetidas, deixando apenas algumas partes essenciais realistas. Aqui ele passa a usar a cobertura influenciada no estilo bizantino e nos mosaicos, criando um confronto entre a abstração e o realismo. Friso Stoclet foi pintada no palácio do magnata belga Adolphe Stoclet entre os anos de 1905 e 1909.

Gustav Klimt
Friso Stoclet - 1905 a 1909




Gustav Klimt
Cobras d'agua - 1904/1907



















Mais uma obra da era dourada, onde Klimt flerta com retratos extremamente decorados e eróticos de mulheres. 













   













Gustav Klimt
As cobras d'agua II (As amigas)  1904/1907














Gustav Klimt
O beijo - 1908

terça-feira, 18 de setembro de 2012

As sábias palavras de José Pepe Mujica

Vez por outra, as lideranças mundiais resolvem fazer conferências, reuniões, ou seminários, como queiram chamar, estes encontros da cúpula que se julga apta a liderar os ditames e os rumos da ordem global que rege a minha, a sua, a nossa vida cotidiana. Foi o que aconteceu agora, poucos meses atrás, no encontro denominado de Rio + 20, no Rio de Janeiro, que teve o intuito de discutir os problemas ambientais e sociais gerados em decorrência deste deteriorante progresso capitalista, e que coincidentemente, não contou com a presença dos principais expoentes do processo consumista: Estados Unidos, China e Rússia.
Solenes e esperançosos discursos para uma mudança no mundo, mais uma artimanha do sistema, uma mera formalidade para uma representação medíocre de debates que servem somente para adubar os canteiros das relações públicas e da faminta imprensa. Apesar de toda esse teatro de esperanças demagógicas, surgiu na figura de um desconhecido presidente oriundo de um pequeno país incrustado na América Latina, bem ao nosso lado, um dos discursos mais inteligentes e sensatos, até então já pronunciado por um político perante os microfones destas formais reuniões, e que por interesses difusos, foi muito pouco divulgado pelos meios de comunicação. Se as suas palavras são sinceras ou não, não da para afirmar, mas o certo é que são sábias. Parabéns señor José Pepe Mujica, presidente do Uruguai.  

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

As raízes musicais jamaicanas do The Jolly Boys

Great Expectation
The Jolly Boys - Great Expectation (2010)
Jamaica, uma pequena ilha incrustrada em meio ao tropical clima caribenho e berço de uma das culturas musicais e sonoras mais ricas e variadas da civilização humana. Quando se fala de Jamaica sempre vem a mente a imagem de rastafari, maconha e Bob Marley, mas muitos desconhecem as raízes musicais desta instigante civilização, formada por escravos que conseguiram, através de revoltas e rebeliões, sua liberdade perante o governo britânico.
A música da Jamaica é reflexo da fusão deste espírito de luta e liberdade africana com a heterogeneidade cultural que fervilhou pela ilha durante os tempos, moldando assim os ritmos musicais que ali ecoam.
Na base destes ritmos jamaicanos encontra-se o mento, uma espécie de música folk, partindo da mistura de ritmos tribais africanos trazidos pelos escravos e da música européia trazida pelos colonizadores.
É amparado nestas raízes sonoras que o grupo jamaicano The Jolly Boys construiu sua vida musical nos idos da década de 50 até os dias de hoje, fundindo elementos da música country como o banjo e percussão jamaicana. No último álbum da banda de simpáticos, dançantes e criativos "velhinhos jamaicanos" (Great Expectation - 2010), eles reeditaram clássicos do rock de Iggy Pop, Steely Dan, The Doors, Lou Reed e New Order,  embalados por seu som raiz.
Sensacional ouvir e sentir a energia destes nobres senhores que percorreram o tempo de forma simples e sábia, expressando suas emoções através da música.


  Amy Winehouse na voz dos alegres meninos jamaicanos




segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A alucinação irracionalmente absurda de Max Ernst

auto retrato
Max Ernst
Divorciar-se do domínio da lógica racionalista foi a grande tarefa surrealista do pintor Max Ernst, que buscava e encontrava as ferramentas de trabalho em seu inconsciente, onde, através da loucura, do sonho, do maravilhoso, libertava a imaginação. Eram nas profundezas do espírito que Ernst procurava encontrar as estranhas forças da imaginação: "captá-las primeiro, para depois, se for o caso, submetê-las ao controle da razão" - André Breton.
Essas habilidades para dar existência material às imagens do inconsciente é explicada por Ernst através de sua materialização em ave, impressão esta que invadiu sua obra na forma de um alter ego o homem pássaro Loplop "que se fez carne sem carne", segundo o próprio pintor.
O convívio com as agruras da primeira guerra, na qual Max Ernst viveu 4 anos servindo o exército alemão, deixaram profundas feridas em seu âmago, influenciando sua concepção absurda sobre o mundo.
Com uma grande capacidade de síntese Max Ernst propõe ao espectador imagens de intensa significação, elaboradas por meio da reinvenção e criação de técnicas que se tornariam sua marca registrada, como por exemplo:
- Colagem: Ernst usava pedaços de ilustrações de livros, anúncios publicitários e fotografias para criar imagens desconcertantes.
- Grattage: raspava a tinta a fim de revelar outras camadas e acrescentava textura usando a superfície de objetos sob a tela. 
- Frottage: imagens obtidas pela fricção do papel sobre superfícies ásperas produzindo um efeito alucinatório. Foi assim que Ernst criou a frottage.


Max Ernst
Aquis Submersus - 1919



 




Um de seus primeiros trabalhos surrealistas. Já mostrando todo o caráter de liberdade imaginária que perseguiria seu estilo através de sua extensa obra.












Max Ernst
Celebes - 1921






Um receptáculo de grãos se transforma num sinistro e misterioso elefante. 

















Max Ernst
Duas crianças ameaçadas por um rouxinol - 1924





Nesta obra Ernst elabora um confronto de perspectivas. A presença de objetos sólidos presos ao quadro (a maçaneta e o portão) reflete uma sutil visão de interpretação de mundos.
E o rouxinol estranhamente, não aparenta ameaçar ninguém, a não ser que ele fosse um avião de bombardeio.  













Max Ernst
A Virgem Maria castiga o Menino Jesus diante de três testemunhas:André Breton, Paul Éluard e Max Ernst - 1926
























Max Ernst
Édipo - 1934




Édipo faz parte de sua experiência romance colagem, uma mistura de artes visuais e narrativa, intitulada Uma semana de bondade, um conjunto de 184 obras criadas durante uma viagem de 3 semanas à Itália em 1934. A série apesar de não conter textos, pode ser lida como uma versão subversiva do Gênesis.









Max Ernst
Europa depois da chuva 1940 - 1942





Max Ernst
Capricórnio - 1948


Nesta obra aparecem dois corpos híbridos que recordam um pouco dois membros de uma tribo africana, ou pode-se dizer que são a recriação de dois deuses que se diferenciam através de suas cabeças.










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