quinta-feira, 26 de junho de 2014

A Terra vista do céu, o belo e agonizante ato de civilizar

auto retrato
Yann Arthus-Bertrand



A rotina existencial calcada na exploração extrativista, desde os primórdios tem sido encarada como a dadiva do progresso, deteriorando a natureza continuamente a cada instante. As imagens e pesquisas feitas pelo ecologista e fotógrafo Yann Arthus-Bertrand mostram a beleza de uma evolução agoniante do Planeta Terra.






Absorvida pela esquizofrênica rotina mundana da conquista material, a humanidade assiste passivamente as transformações sofridas pelo planeta em decorrência da atual condição imposta pelo ato de civilizar.


Yann Arthus Bertrand

CENTRO-PIVÔ DE IRRIGAÇÃO, WADI RUM, REGIÃO DE MA’AN, JORDÂNIA

O processo existencial criado pelo deteriorante sistema civilizador, por conveniência, decidiu entender que para transpor o caminho evolutivo, a humanidade deveria adotar o pensamento egocêntrico, e consequentemente procurar extrair o máximo de proveito da exuberante riqueza natural que se acumulava a sua volta
Yann Arthus Bertrand

VIDEIRAS, REGIÃO DE GERIA, LANZAROTE, ILHAS CANÁRIAS, ESPANHA

.
E desde então, a exploração extrativista foi o grande trunfo encontrado pela humanidade para tentar encontrar um significado existencial. Abusando da natureza do Planeta Terra como um simples objeto inanimado, o sucesso material e financeiro estaria garantido, e a tão almejada busca pelo progresso acabaria por se concretizar.

Yann Arthus Bertrand

PAISAGEM AGRÍCOLA PERTO DE COGNAC, CHARENTE, FRANÇA

Porém o que levou a humanidade a tamanho ato de imbecilidade? Ignorância? Ganância? Poder? Inúmeras são as questões que atormentam aqueles que procuram entender a real situação humana. 

Yann Arthus Bertrand

QUEBRA-GELO LOUIS-SAINT-LAURENT NA BAÍA DE RESOLUTE, TERRITÓRIO DE NUNAVUT, CANADÁ

Em meio a isto emergiram várias teorias científicas a respeito dos processos que mantém a vida na Terra, dentre elas a teoria de Gaia - originalmente proposta por James Lovelock na década de 60 - talvez seja aquela que formulou a mais bela e instigante expressão sobre o planeta: a idéia de que a Terra como um todo é um sistema vivo, auto-organizador.

"Considere a Teoria de Gaia como uma alternativa à sabedoria convencional que vê a Terra como um planeta morto, feito de rochas, oceanos e atmosfera inanimadas, e meramente habitado pela vida. Considere-a como um verdadeiro sistema, abrangendo toda a vida e todo o seu meio ambiente, estreitamente acoplados de modo a formar uma entidade auto-reguladora" - extraído do livro A Teia da Vida de Fritjof Capra (1996).

Yann Arthus Bertrand

DETALHE DO RIO PJORSA, ISLÂNDIA

Dentro desta mesma concepção de planeta vivo o fotógrafo e ambientalista francês Yann Arthus-Bertrand, traçou um esplêndido porém melancólico registro sobre as mudanças drásticas e assustadoras que o homem promove junto ao planeta.

"A Terra vista do céu" é um incrível e instigante compêndio de fotografias que o francês realizou durante seus 20 anos de viagens e pesquisas pelo globo terrestre. As 130 imagens e os relatos podem ser admirados e lidos, respectivamente, através do site:

http://terravistadoceu.com/sobre-a-exposicao/


Yann Arthus Bertrand

FLAMINGOS-ROSA NO LAGO NAKURU, QUÊNIA


As imagens fotográficas de Yann mostram as exuberantes belezas naturais responsáveis pela concepção da vida na Terra, e ao mesmo tempo demonstram todo desequilíbrio que o homem gerou durante os tempos. Uma obra instigante que suscita reflexões e dúvidas a respeito da condição humana. Pois sendo a vida um sistema de conexões auto-regulador, todo o impacto explorativo causado ao meio ambiente acabará por alterar os mecanismos que a sustentam as conexões vitais, inclusive a própria existência do ser humano egocêntrico e poderoso que insiste em dominá-la.

Yann Arthus Bertrand

ICEBERG ERODIDO NO FIORDE DE UNARTOQ, GROENLÂNDIA





sexta-feira, 13 de junho de 2014

J. D. Salinger: a paranóica chegada da adolescência

escritor
J.D. Salinger
O desapego com o até então confortável e fantástico universo da infância, pode soar normal, como um acontecimento corriqueiro ao qual a maioria mecanicamente sempre encarou pelas vias da lucidez, porém para Salinger, esta ruptura desconfortante da perda da inocência e o encontro com o mundo hipócrita e impiedoso da vida adulta em meio ao processo civilizatório, gerou em sua criativa e hábil mente, a inspiração necessária para fomentar seus escritos e ideias no decorrer de sua vida enquanto pensador e escritor.

A atmosfera da "crise de identidade" que paira sobre seus contos e histórias, atingiu em cheio o público jovem, especialmente adolescentes que de alguma maneira ou outra se identificavam com as agruras enfrentadas por seus personagens diante às mudanças comportamentais existentes no despreparado ciclo da vida do coletivo social.

auto retrato
J.D. Salinger

Os abalos psicológicos, especialmente os sofridos por Holden Caulfield, personagem central de sua principal obra "O apanhador no campo de centeio" (1951), podem soar, em determinado instante, como meros devaneios acometidos sobre a mente daqueles que de alguma forma ou outra, não tiveram a coragem e astúcia para enfrentar o avanço temporal com ímpeto e determinação.

Por outro lado, esta dialética sobre estágios da evolução mental, num contraponto, pode ser entendida como a saída de uma fase onde o fator lúdico e puro do estágio primeiro da existência enquanto indivíduos, está muito distante daquele espírito competitivo e arrogante presente do âmago da adulta civilização humana.

Salinger, ao se deparar com o sucesso de seus escritos, principalmente pela publicação do seu único romance produzido (O Apanhador no campo de centeio); vê sua privacidade sendo invadida pela mídia e pelo público e decide então, sair de cena, e ir morar no campo, como um bom misantropo, isolado da humanidade.


auto retrato

A obra de Salinger, curta e densa, trata de assuntos complexos, muitas vezes renegados no âmbito familiar e educacional responsáveis pela formação intelectual dos jovens, como: solidão, depressão, desilusão, a sensação de não pertencer, duvidas sobre o futuro, a tal "crise de identidade" presente na transição impactante entre infância e vida adulta. Além da riqueza literária, seus escritos fomentam reflexões a cerca da preocupação com o processo de amadurecimento mental das novas gerações, traçando uma crítica visão sobre a hipocrisia presente nos vínculos sociais humanos representados pela vida adulta.

 

"Sou um paranoico às avessas. Suspeito de que as pessoas conspiram para me fazer feliz". - J.D. Salinger






 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...