quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Hermann Hesse: a busca pelo autonhecimento diante das restrições sociais

retrato
Herman Hesse

Desprender-se das expectativas do progresso deteriorante, que se encontram aprisionadas junto às ilusões mundanas do sucesso material, foi desde sempre alvo de inspiração presente no processo dialético mental daqueles destemidos inconformados pensadores que, por determinada razão, negligenciaram e ou negligenciam a atual situação dos acontecimentos e interações que procuram sustentar o condicionamento existencial da civilização humana como sociedade.

Introduzir novos conceitos e visões, incitando contradições junto ao senso comum conturba com os até então inquestionáveis teores de normalidade impostos pela máquina social, que de uma maneira um tanto quanto insensata, passa a olhar para àqueles, os instigadores de reflexão, como uma ameaça ao atual estado das coisas.

Hesse e o Gato
Hermann Hesse e o gato

Foi assim, em meio a atmosfera opressiva e condicionante do inicio do século passado, que Hermann Hesse solidificou seu pensamento e aguçou sua sensibilidade, ao expor publicamente seus ideais e percepções existenciais, escrevendo suas reflexões formuladas e inspiradas por experiências traumáticas suas decorrente do ambiente familiar e social que o absorvia. Procurando relacionar a necessidade de conciliação entre as relações humanas e a busca pelas potencialidades latentes que vagam despercebidas nas profundezas da mente de todos os seres providos de telencéfalo "altamente desenolvido" e polegares opositore; Hesse usou de toda sua capacidade inventiva para difundir àquilo, que talvez, lhe perturbava o sono.

Apesar das cicatrizes psíquicas ocasionadas pelas ultrapassagens diante a estes obstáculos que se ergueram em seu tortuoso caminho elucidativo - um ambiente familiar ancorado sob uma ferrenha ortodoxia religiosa cristã e ter sido submetido às atrocidades de uma educação calcada na violência física e emocional - Hermann Hesse, mesmo assim, construiu uma extensa e profunda obra, baseada na necessidade da busca do autoconhecimento dentro das restrições impostas pela sociedade, materializando pensamentos através de romances e estudos que mesclam filosofia oriental, ficção e uma autobiografia disfarçada de seus acontecimentos e experiências cotidianas.


Num mundo cada vez mais despersonalizado, onde os valores humanos e mentais são devorados pela necessidade de satisfação do ego, preocupado mais em aparentar do que realmente entender, as pessoas já não mais são reconhecidas pelo que pensam ou são, mas sim por aquilo que fingem exteriormente. Diante a esta superficialidade emocional, condicionada gradativamente pelos atuais sistemas de relacionamento virtual, o desafiante método proposto por Hermann Hesse, a conexão entre mente e a consciência cósmica, talvez esteja distante da popularidade mundana, porém para àqueles, poucos, ou serão loucos (?), cansados da estafante rotina progressista moderna, parece estar a cada segundo, a cada instante, a cada momento uma pouco mais vivo. 
 
Um pequeno apanhado de sua obra:

Hermann Hesse
Demian (1919)




Demian foi concebido após um colapso nervoso que acometeu o escritor. O trabalho incansável e chocante na Suíça ajudando prisioneiros de guerra, somado ao casamento fracassado, a morte do pai e uma grave doença em seu filho, conturbaram sua mente. Fez então psicanálise com um J.B. Lang, discípulo de Karl Jung, usando estas experiências para produzir o romance, aonde descreve a enorme confusão mental de um jovem que abruptamente toma consciência da fragilidade moral, da família e do Estado.











Hermann Hesse
Sidarta (1922)

 

Inspirado na vida de Sidarta Gautama (o Buda), e por sua estada na Índia em 1910, o livro trata da busca filosófica de um jovem indiano por si mesmo, fundindo filosofia ocidental e oriental na exploração do autoconhecimento. Na década de 60 o livro foi um dos responsáveis pela disseminação do hinduísmo e budismo nos Estados Unidos, servindo de referência aos poetas da geração beat, como Jack Kerouac e William Burroughs.












Hermann Hesse
O Lobo da Estepe (1928)






Como característica de sua obra o livro é carregado de conteúdo autobiográfico disfarçado, onde o autor descreve a trajetória  de um sujeito misantropo (aquele que desconfia da humanidade) e que tem aversão aos relacionamentos interpessoais corriqueiros e do senso comum que orientam a maioria das pessoas na sociedade.











Hermann Hesse
O jogo das contas de vidro (1943)





Seu último livro, o auge de sua obra criativa, "O jogo das contas de vidro", escrito entre 1931 e 1942, descreve um futuro utópico habitado por uma comunidade mística que desenvolveu uma espécie de linguagem oculta, altamente evoluída onde encontram-se reunidas várias ciências e artes onde os ideais do espírito são ativamente preservados.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O empolgante balanço do Soul Train



Num mundo onde a pressão acumulada da sobrevivência sistêmica abafa nossos sentidos, procurar libertar-se das angústias fabricadas é um dos ingredientes que contribuem para a motivação existencial.

Imagine-se então viver sob uma opressão escancarada da segregação racial, como os negros no início do século passado, e que mesmo assim, conseguiram, através da arte, produzir um elixir para amenizar as dores físicas e mentais deixadas pela imbecilidade da gananciosa colonização europeia.
 
Em meio às vastas plantações de algodão nos Estados Unidos, eram submetidos ao trabalho escravo de maneira desumana, todavia com seus corpos consumidos pela fatiga, extraíam energia das profundezas do âmago para entoar versos de lamentação que se transformavam numa jocosa áurea sonora, e que mais tarde acabou por se tornar um dos ingredientes principais do movimento musical mais expressivo da história da humanidade, o rock and roll.

Blues, rythm and blues, soul, gospel, jazz, todos oriundos do processo escravo que a cultura africana trouxe ao mundo.

cottom blues
Plantação de algodão

Mas este cenário de opressão racial perdurou por muitos anos e ainda sente-se alguns sinais, porém os negros nunca deixaram de lado suas raízes, pelo contrário, como já dizia um James Brown, "Os negros querem curtir e dançar".

Suas tradições culturais sempre foram impactantes e influentes, foi assim com o programa musical de televisão na década de 70, nos Estados Unidos, criado e apresentado por Don Cornelius, o Soul Train.

Soul Train
Don Cornelius - Soul Train

Soul Train foi um palco onde a atração principal era o coletivo de pessoas anônimas e descoladas que, desligadas do processo mundano, balançavam sensacionalmente seus corpos ao embalo de implacáveis trilhas sonoras. Um verdadeiro espetáculo criativo e envolvente de improvisação e sentimento aonde os dançarinos apenas deixavam-se invadir pela vibração sonora da música. Sensacional.









Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...