Era tão especial, tão meiga, tão
perfeitinha. Nasceu com pele alva, cabelos loiros, olhos azuis e
bochechas fartas que pediam apertões e viviam rosadas. Cresceu sendo a
engraçadinha, a fofinha, o bebê de propaganda que vivia cativando a
todos com sua sublime imagem e com um sorriso inebriante que desmanchava
até o mais duro dos corações. Falava tudo corretamente, era educada,
obediente, estudiosa, respeitava os pais, os mais velhos, levava o seu
prato até a pia, ajudava a lavar a louça... Era um anjinho. Jamais
causava preocupação alguma a sua doce mãe e tão pouco alguma decepção ao
orgulhoso papai. Menina de ouro. Virou adolescente, só tirava 10,
sentava na frente, não conversava, não se distraía, pedia silêncio aos
colegas, levantava a mão quando queria falar, impressionava pela
oratória, ganhava as competições de ciência, era a preferida dos
professores e dos funcionários da escola. Vivia impecável em suas roupas
claras, sempre combinando, com muito bom gosto, artigos da moda atual.
Usava maquiagem leve e cabelo simetricamente cortado. Sempre com postura
ereta, fazia balé e tinha estilo, era imponente ao movimentar-se.
Devota, toda santinha, não aceitava saliência dos meninos, mesmo
dilacerando corações juvenis. Casaria pura, após um namoro comportado,
isto era certo. Era considerada a mais bonita da sala, do colégio, da
cidade... Desfilava para lojas e saía no jornal. Destacava-se nos
esportes, na natação, no vôlei, na esgrima, nas danças, no karatê, no
vídeo game e praticava alpinismo. Era prendada, bordava, sabia cozinhar,
sabia como organizar uma mesa e adorava receber convidados. Criava com
muito carinho e visitas semanais ao pet shop, dois gatos persa, um casal
de canários, um yorkshire terrier, um pug e um shih tzu. E
como cantava, era dona de uma voz sublime, afinadíssima, além de
dominar o violino e estar aprendendo piano. Era uma rosa de menina em
flor. Ela era superior, caminhava sem tocar os pés no chão, teria um
futuro brilhante, casaria com o melhor dos homens, teria o mundo aos
seus pés. E num belo dia, após voltar da costureira que estava dando os
últimos retoques no seu inigualável vestido branco para o baile de
debutantes do clube social, após chegar em casa e estar solitária no
aconchego do banheiro brilhante de seu lar, sentiu algo estranho
movendo-se em seu interior, um leve desconforto querendo escapar de sua
barriguinha branca e esbelta, sentiu um pouco de medo, mas concentrou-se
para terminar logo o que havia começado sem fazer barulho. Afinal de
contas, princesas não fazem barulho. Percebeu que um elemento estranho
saía de dentro de seu corpinho. Resolveu olhar e, para seu espanto e
comoção, viu que uma rosa havia brotado de seu cu.
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